sábado, 2 de outubro de 2010

Hard Club

Quatro anos depois do encerramento, a sala de concertos reabriu, desta vez na Ribeira do Porto e com mais espaços e novas ambições. O espectáculo já pode continuar.

O Porto já tinha a Casa da Música, agora tem a caixa da música. Ou melhor: o Porto tem duas caixas pretas metidas no espaço de um antigo edifício de ferro e vidro da Ribeira portuense. Dentro e fora das caixas vai haver música, muita, mas também cinema, teatro, exposições, comida, conferências, animação nocturna, actividades para crianças e tudo o que seja possível meter lá dentro. O novo Hard Club, disso se trata, foi inaugurado anteontem à noite, no antigo Mercado Ferreira Borges, quase quatro anos depois de a mítica sala de concertos da marginal de Gaia ter fechado as portas. Calú, o baterista dos Xutos & Pontapés que é também um dos donos das caixas, estava "felicíssimo".

"Queremos fazer muitas coisas e transformar isto num ícone da cidade, onde as pessoas venham para ouvir música, passear, ver uma exposição, namorar ou só porque sim", explicou o músico. A porta foi aberta pelo presidente da Câmara do Porto - a autarquia continua a ser proprietária do edifício, agora concessionado por 17 anos - e vai manter-se assim, escancarada, todos os dias entre as nove da manhã e a meia-noite, excepto aos fins-de-semana, altura em que o horário é prolongado até às 4h00 da madrugada. Com novos espaços e outras ambições, o Hard Club abdica da vocação de sala de espectáculos, sobretudo para a música alternativa, passando a ser um espaço multidisciplinar e um dos maiores equipamentos privados de cultura do país.

Para quem conheça o Mercado Ferreira Borges de outros campeonatos, a estrutura do edifício histórico, em ferro pintado de vermelho, está totalmente preservada e intocada. As duas caixas acústicas que são as salas de espectáculos foram enfiadas nas alas laterais, deixando o corredor central livre para exposições e outros eventos. Ao fundo, há um terceiro palco e, sobre a caixa mais pequena, com capacidade para duzentas pessoas, há um restaurante-cafetaria-lounge.

Um palco "espectacular"

A sala dois vai ser usada essencialmente para cinema, teatro e concertos de novas bandas. Já os espectáculos musicais que celebrizaram o Hard Club (passaram por lá, entre muitos outros, os Morphine, os Rammstein ou os Goldfrapp) terão como palco a sala 1, com capacidade para oitocentas pessoas e que é praticamente do mesmo tamanho da antiga tanoaria de Gaia onde o Hard Club funcionou durante uma década. "Para mim, como músico, esta é uma dimensão muito confortável, permite uma grande interacção com o público", comentava Calú na inauguração. Miguel Ferreira, teclista dos Clã e dos Blind Zero, concorda: "O palco é espectacular".

Nos dias em que não haja concertos, as duas caixas poderão ainda ser utilizadas como discoteca, estando ambas equipadas com bares. A concepção destes blocos acústicos, assentes em borracha natural, permite, refira-se, que decorram três espectáculos ao mesmo tempo, uma vez que não existe nenhuma propagação de som ou de vibrações para o exterior. Nos dias mais animados, os responsáveis pelo Hard Club prevêem que seja possível juntar mais de duas mil pessoas dentro do Mercado Ferreira Borges.

A inauguração, anteontem, teve música, claro, e várias centenas de convidados. Ontem à noite, de regresso à vida normal, o Hard Club recebeu um concerto dos alemães Atari Teenage Riot. Daqui para a frente, a programação promete ser regular e variada e Calú adiantou ao P2 que para Outubro estão já agendados cem eventos só na área da música. Os Xutos só actuarão, em princípio, em Janeiro.

Para além da música, haverá, nas próximas semanas, vários espectáculos de Novo Circo e, às quartas-feiras, em simultâneo com Lisboa e Londres, o concurso de curtas-metragens Shortcutz. Está também agendada a exibição de Fados, de Carlos Saura, e a estreia, no dia 28 de Setembro, de O Guardião do Rio, a nova produção do Teatro da Palmilha Dentada.

O espaço do antigo mercado, construído entre 1885 e 1888, vai poder ser usado livremente e só os espectáculos que decorram dentro das caixas serão sujeitos ao pagamento de bilhete.

Os responsáveis do Hard Club apostam ainda numa forte interacção com as escolas artísticas da cidade, cedendo aos jovens criadores espaços onde possam desenvolver o seu trabalho. O novo espaço pretende também cativar, pelo menos durante o dia, os milhares de turistas que visitam a Ribeira portuense. Para a noite, os planos passam por ajudar a reconfigurar a oferta cultural e a vida nocturna da cidade, criando uma alternativa ao pólo de animação que nos últimos anos surgiu na zona dos Clérigos e voltando a estender a movida para a Ribeira, de onde praticamente desapareceu. "Temos condições para ter uma área de animação de qualidade, mas que será fechada, mais confortável e segura", explicou Paulo Ponte, outros dos donos do Hard Club.

Jorge Marmelo (PÚBLICO)

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